17 de setembro de 2011

A Ceia

Por volta de mil oitocentos e noventa, Itajaí engatinhava e os recursos, obviamente, eram escassos.
Fósforo era um.
Contava meu saudoso pai que seus avós moravam nas terras onde hoje localiza-se a igreja do Santíssimo Sacramento e labutavam na lavoura como meeiros, distante oito quilômetros dali.
Sua avó se encarregava dos afazeres domésticos, inclusive de manter acesa a chama do fogo do fogão a lenha enquanto seu avô e filhos maiores estavam na roça, caso contrário era muito difícil principiar novamente o fogo, tendo em vista a escassez do fósforo, considerado uma especiaria de luxo para eles.
Numa tarde, por descuido o fogo apagou-se.
Apavorada, pois precisava do fogo para o preparo da ceia, não teve dúvida, colheu um chumaço grande de algodão da própria horta no quintal da choupana, fisgou-o na ponta de uma estaqueta e com uma espingarda, disparou contra o alvo de algodão, obtendo de volta o fogo e assim, reacendendo o fogão.
A ceia daquela noite estava garantida.

16 de setembro de 2011

A bonequinha da janela

Desde muito tempo ando “cismado” com uma cena que vejo todos os dias quando acordo.
Numa velha e estranha casa vizinha a minha, onde raramente se vê o único senhor que nela mora, numa das janelas da frente, há sempre uma bonequinha pelo lado de dentro a espreitar a rua.
Naquela casa não há mais ninguém além daquele senhor que pouco se vê, muito menos uma menina, que justificaria aquela boneca ali.
Já cheguei a me aproximar ao máximo da janela para tentar entender e decifrar aquele enigma. Onde talvez o enigma esteja apenas em minha cabeça, sei lá.
Ela sempre está ali, fria, imóvel... e a meu ver, sem razão de ali estar.
Quando passo, olho pra boneca na esperança de buscar um significado.
Muitas coisas já se passaram na minha cabeça...
...coisas do tipo: Aquele senhor sozinho devia ter uma filhinha em algum lugar do passado, e deste passado só lhe restou a boneca, ou, aquilo representa a filha que ele não teve e queria ter tido....
Não tenho assim tanta intimidade com aquele senhor para lhe perguntar a razão e assim a dúvida e a curiosidade continuam.
A casa é velha, acabada, sem gente, sem vida...
Talvez a bonequinha na janela esteja ali pra amenizar a tristeza que emana daquele lar.
E não há coisa pior de que um lar triste, sem vida, sem crianças.
Quando tirarem dali a bonequinha, por certo a casa cairá.

15 de setembro de 2011

De mala e cuia



A imagem aí ao lado não saiu como eu queria, mas a mensagem eu posso explicar: Tratava-se de uma família que estava "fugindo" da enchente que assolou Itajaí agora em setembro/2011. O esposo já estava quase atravessando a avenida de moto carregando trouxas de roupas, filho, bolsas, panelas etc..., enquanto a esposa com os outros dois meninos e o cachorrinho aguardava para atravessar e procurar refúgio na parte mais alta do bairro.
Fiquei pensando: ...com certeza só tiraram o que de mais essencial tinham e o que puderam... e agora devem estar indo para um abrigo da defesa civil, casa de amigos ou parentes...e quando as águas baixarem, eles voltarão pra ver se a casinha ainda estará por lá...
Agora, quatro dias após o término da enchente voltei a pensar neles... “Será que retornaram? A casinha ainda estava lá, Quem era aquela gente?... Será que perderam muita coisa"?

Me conformei quando conduzi meu pensamento para esta constatação: “Se perderam, logo recuperarão, as coisas por aqui sempre se recuperam, e logo terão tudo novinho de novo..." que bom!.

Para esquecer isso, ligo a TV ... e a defesa civil está avisando: É possível que em outubro ou novembro tenhamos outra enchente...